Quando penso no caminho de minha filha Sulamita, meu coração se enche de uma emoção que transborda. Quem poderia imaginar? A neta de agricultores simples, que regaram a terra com suor e fé, agora atravessa o oceano para representar o Brasil em Angola, diante do Tribunal Superior de Justiça e de um povo que celebra sua independência. É a história da humildade que se faz grandeza.
Sulamita não leva apenas seu nome, seu título, sua toga. Ela leva a marca de uma genealogia de resistência. Leva no peito a força de Seu Severino, agricultor que defendia o povo com coragem. Leva nas mãos o afeto de Dona Auta, minha mãe, que rezava por cada filho e fazia da fé um escudo contra o impossível. Leva também em si a lição desta professora que sou: acreditar que a educação pode transformar destinos.
Eu a vejo partir e imagino Dona Auta, do céu, abrindo um sorriso de orgulho: “Olhem, é minha neta. A menina que carrega no sangue a dignidade da terra e agora fala ao mundo de justiça.” A rabeca de seu Iêiê parece soar de novo, agora como hino de vitória, celebrando a liberdade que Fabião das Queimadas tanto sonhou.
Minha filha, quando erguer sua voz em Luanda, saiba: você não estará sozinha. Atrás de cada palavra sua, haverá gerações inteiras falando. E nós, que ficamos, sentiremos que cada aplauso que você receber será também para aqueles que nunca tiveram voz.
Boa Hora vai a Luanda, a estrada é longa… Mas a neta de Dona Auta chegou lá. Mas você a percorre com os pés firmes, porque seu chão é feito de história, de luta e de amor.
E eu, como mãe e como filha, agradeço a Deus por ver florescer em você o fruto mais bonito que uma família pode oferecer ao mundo: a esperança.

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